UMA POSSÍVEL CRÔNICA (Especialmente para a 8ª 01 e o 1º 08)

A olimpíada de Língua Portuguesa determina que a 8ª série e o 1º ano escrevam uma crônica a partir do tema "o lugar onde eu vivo".  Possivelmente, a crônica que escrevi possa se aproximar do cotidiano de qualquer cidade cujos ônibus lotam ao final da tarde. De qualquer forma, o cenário que serviu como inspiração para a presente crônica foi a cidade onde vivemos; espero que sirva como caracterização e que de fato, o texto escrito se aproxime de uma crônica. Lembrando que há controvérsias quanto ao que de fato compõe um texto a ser chamado "crônica".

ELE RIA PARA NÃO CHORAR
Professora Aline


Ônibus lotado, sexta-feira 18h30: ansiedade danada pra encerrar a semana. Com exceção dos que se distanciavam através do ritmo particular de seus fones de ouvido, toda a gente do ônibus antenou os ouvidos em direção a um senhor de meia idade, sentado próximo ao corredor. A princípio, ele entoava apenas expressões de reclamação e suspiros que serviriam a qualquer momento ruim da vida “Essa vida é dura”, “Não é fácil”, “A gente tem que ri pra não chora”. Quando ele deu a primeira risada todos se entreolharam com um sorriso de desprezo e um balançar de cabeça reprovando aquele homem petulante a ponto de interagir com o ônibus inteiro reclamando suas dores. Deve estar bêbado, pensei. Todos pensaram. Até que ele começou a discursar lá do fundo do ônibus para todos sem olhar a ninguém: “Tem dois meis que o patrão não me paga. Trabalho em construção civil, mas o patrão não recebe o dinheiro que tem que recebe e por isso não paga nóis. (E riu pra não chorar) E agora como é que faiz hein? Alguém me diz pelo amor de deus!! Não posso pagá o aluguér, o dono da casa fica me cobrando. Não posso mais comprá na padaria porque o home não vende mais fiado. Não posso comprá no mercado porque o home não qué mais vende pra nóis lá de casa e como é que eu faço pra dá de comê pros meus negrinho?(E riu pra não chorar) Se um não recebe fica embolado pra um monte de gente. A mulhé do patrão deu essa dúzia de ovo aqui pra nóis cume finar de semana, e é isso que eu vou te pros meu negrinho. Paciênça, pelo menos nóis não vai passá fome por uns dia. (E riu pra não chorar) Vocêis tão vendo essas ferramenta aqui? Trouxe tudo lá da construção minhas ferramenta porque não tenho dinheiro pra pegá ônibus e vortá lá pra trabaiá segunda-feira. O patrão diz que também não recebeu, mas ele tem cartão de crédito. E nóis não tem nada. É por isso que nóis tem que se apegá a Deus. Se apega a Deus pra não procurá um revolve e assaltá um lugar. Depois que ta feita a cagada, ninguém vai querê explicação. Não tem descurpa.” Ignorei as campanhas para não cedermos aos apelos de pedintes e entreguei 2 reais ao homem dizendo “espero que possa ajudar o senhor com a comida ao menos nesse final de semana”. E aliviei minha consciência. Encontrei meu namorado, narrei o fato, apreensiva, e ele me chamou para tomarmos um chopinho. Fui lá. No segundo chop já havia relaxado e esquecido. Pedi uma porção de batata frita, nos fartamos. Voltei pra casa e dormi feito anjo. Agora escrevo este texto; pois hoje lembrei que tenho um amigo engenheiro civil que trabalha em obras e possivelmente ajudaria esse homem. Escrevo para aliviar minha consciência, pessoa ordinária que devo ser...

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1 comentários:

Jaciara da Silva disse...

Não conhecia este ainda, somente o outro em que sou personagem mais a Nega Fulô. Gostei muito amiga!
kiss

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