O "casqueiro" citado nas olimpíadas de Língua Portuguesa

Artigo publicado no Jornal Anotícia em 07/11/2010, comentando as crônicas dos alunos da E.E.B. Dr Tufi Dippe, que assuntaram o "Casqueiro" relacionando-o à proposta "O lugar onde eu vivo" das olimpíadas de Língua Portuguesa.



Bem, não é casqueiro, pessoal, é sambaqui. Há conchas importantes por lá, empilhadas ao longo da história de Joinville. Mas o nome usado pelos alunos da Escola Dr. Tufi Dippe é casqueiro, apelido consagrado da praça Davi da Graça, que integra uma área de lazer e um sambaqui. Para instigar também nosso aluno leitor, seria preciso manter o apelido.

Crônica é o gênero proposto pelas olimpíadas de Língua Portuguesa aos alunos da 8ª série ou 1º ano do ensino médio. É gênero polivalente. Exibe histórias do cotidiano, então é narrativa; exibe pontos de vista, então bebe na fonte do artigo de opinião. Aconselha-se que não seja aguda, mas pertinente a algum aspecto das gentes. Que seja crítica, mas com humor. “É coisa de escritor”, manifestam os alunos.

A proposta possibilita, com o tom confessional da primeira pessoa do singular e o tema “O lugar onde eu vivo”, que conheçamos apontamentos dos alunos com relação à cidade e ao bairro. O mais discutido foi a situação do Casqueiro. “Quando falamos que vamos ao casqueiro, todos nos olham com preconceito, pois acham que lá só tem pessoas de mau caráter, mas o casqueiro é um lugar onde os garotos se reúnem para jogar bola, onde os pobres se divertem para que tenham lazer no seu final de semana.” O trecho do texto da aluna demonstra sentimento comum a muitos; especialmente dos que nasceram nas redondezas e associam o local a uma história pessoal. Narraram as peladas de sábado; alguém lembrou do dia em que adotou cadelinha abandonada; até comentaram os tempos em que a família ia ao local no domingo.

Parece que já estão sendo feitos reparos. Há promessas de que sejam instalados neste espaço uma academia da melhor idade, brinquedos infantis e a revitalização da quadra de futebol de areia. A intenção já não é pedir melhorias ao local. É dar voz às prioridades da criança e do adolescente. É fazer valer sua fala valorizando os espaços coletivos de integração. Que o apelo desses jovens, por meio de seus textos com relação ao espaço “casqueiro”, seja um convite para que outras praças sejam revitalizadas, oferecendo limpeza, lazer e segurança.

É possível que, mais que descobrir escritores, um dos principais objetivos da olimpíada promovendo “o lugar onde se vive” seja a reflexão acerca do universo social. Cá está o resultado da proposta do Ministério da Educação e Cultura: um breve diagnóstico acerca do universo do aluno.


× Seguem duas crônicas selecionadas entre muitos textos bons. Entretanto, as duas que seguem não citam o Casqueiro.

Problemas da Modernidade na Minha Cidade
Renan Schoenhaus/ 8ª série


Certo dia eu e minha mãe fomos ao Pronto-Atendimento da zona norte para retirar uma verruga do meu braço; até porque não pega bem para um garoto de 14 anos uma verruga enorme no braço. Apesar de muitas reclamações da população em relação aos atendimentos médicos do SUS em Joinville, fomos atendidos muito bem. Depois que tudo estava pronto fomos ao ponto de ônibus para voltarmos para casa. Quando entramos no ônibus minha mãe sentou-se no assento preferencial antes da catraca, pois estava com meu irmão pequeno no colo, e eu fiquei em pé ao lado dela.

Em Joinville, o sistema de cobrança do transporte coletivo já é "mais avançado". Para pegar o ônibus é necessário comprar o vale-transporte nos pontos de venda. No local onde antes havia o cobrador agora fica uma catraca equipada com um dispositivo onde você insere o vale-transporte liberando a catraca.

Já eram 17 horas quando entramos no ônibus. Estávamos chegando ao centro e um congestionamento enorme nos atrasava. Já era de se esperar, porque com 270 mil veículos circulando pela cidade e lógico que vai haver congestionamento! O ônibus praticamente não andava e uma senhora no meio do ônibus lotado começou a se lamentar, já que teria que buscar seu neto na escola, mas não daria mais tempo: sua filha ficaria desapontada com ela. Outros passageiros também começaram a reclamar do atraso.

Depois de 45 minutos, enfim chegamos ao centro. Mas não esperávamos que surgiria outro problema além do congestionamento. Quando entramos no ônibus ao sairmos do P.A, eu inseri o vale-transporte e girei a catraca, mas não passei. Na hora, nem me dei conta do problema que iria causar. Após todos os passageiros terem saído do ônibus, eu e minha mãe permanecíamos presos.

Conversei com o motorista, tentei convencê-lo de que eu já havia girado a catraca, mas ele criticou a minha atitude dizendo que eu não poderia ter feito isso, que eu deveria ter passado a catraca. Então o motorista, alterado por conta de tantas reclamações devido ao atraso, chamou o fiscal para saber se podia nos liberar ou se teríamos que pagar outro vale-transporte. O fiscal veio, repetiu o que o motorista havia reprovado e finalmente nos liberou.

Se ainda existisse um cobrador seria mais fácil para os usuários do transporte coletivo, pois seriam evitados problemas como esse. Por conta do avanço tecnológico muitos homens foram substituídos por máquinas "mais eficientes" e perderam seus empregos. É irônico verificar que os seres humanos criaram os robôs para facilitar sua vida e, agora, os enfrentam. Eu teria pago ao cobrador o valor do vale-transporte e ele poderia ter falado ao motorista que eu já havia pago. Como é tudo robotizado o motorista, que não presenciou a cena, duvidou da minha palavra e teve que chamar o fiscal. O fiscal acreditou na minha palavra e nos dispensou.



Uma cidade com ritmo
Giovana Luíza Heck/8a 01


Usando os termos mais populares posso dizer que não sou joinvilense, por não ter nascido aqui, mas neste momento estou joinvilense. Em comparação da pequena cidade serrana de onde vim, entre muitas outras das quais morei - além da dimensão da cidade e a violência que a cerca -  Joinville contém uma das atrações turísticas mais diferenciadas, o Festival de dança de Joinville é sem dúvida a maior sensação da cidade.

Acabo de me lembrar de uma dessas apresentações de dança que me chamou muita atenção: o sapateado. Durante toda a apresentação não movi um músculo do meu corpo , não sei por que mais aquilo me prendia a atenção, aqueles garotos e garotas batiam o pé no chão com tanta firmeza, com aqueles olhares que diziam tudo o que eles estavam sentindo naquele momento , não sei explicar o que sentia mais era diferente , tal qual a emoção da criança que descobria um mundo novo , tal qual um amor a primeira vista , ao meu redor haviam os que riam os que aplaudiam os que contemplavam os que criticavam os que esnobavam mais poucos que como eu admiravam.

E agora, pensando bem, esse festival poderia durar mais tempo, tempo suficiente para que as pessoas não apenas se contagiassem pelo espirito da dança, mais que também passassem a vive lo. Quisera eu que fosse assim todo o dia. Que a dança se fizesse presente a todo tempo. Mas já que não é bem assim, eu aproveito enquanto não acaba esse festival de sensações.






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“Puta que o pariu, é a tarifa mais cara do Brasil!”

Um grito de guerra para uns, um coro de arruaça para outros, um brado que ameaça a tranqüilidade dos motoristas de carro alheios à coletividade de uma cidade. A frase foi entoada em manifestações contra a situação do transporte coletivo de Florianópolis, organizadas pelo MPL (Movimento Passe Livre); manifestações que foram tema do documentário intitulado IMPASSE, exibido em 2010 - na Faculdade Ielusc – Joinville.

Confesso que desconhecia detalhes do colapso da capital com relação ao transporte coletivo, que a $2,95, sem qualidade proporcional ao valor que corresponde a uma das mais caras do país, vem jogando pólvora ao ar de uma cidade com muitos universitários. Ainda que houvesse qualidade plena, o valor ainda seria questionável, afinal passagens altas limitam o direito de ir e vir daqueles que dispõem de orçamento limitado.

Lembrei do documentário ao voltar de férias e saber do reajuste da passagem de ônibus em nossa cidade. Existe uma célula do MPL por aqui, mas infelizmente as manifestações não chegam perto da força do movimento encontrada na capital. A maior parte dos estudantes do Campus Universitário de Joinville não depende de ônibus, já que mora nas proximidades da universidade. Outra grande parcela dos jovens da cidade (parcela maior do que a esperada) tem carro. Sabemos que manifestações, não deveriam, mas dependem da astúcia e da visão próspera dos jovens; aqueles que ainda não se acomodaram com o que deve ser questionado.

Certamente, a maior parcela de motoristas de carro das cidades acredita que em nada implica em sua vida os aumentos das tarifas de ônibus, portanto jamais poderiam dar corpo a alguma manifestação. Enganam-se profundamente. Convido a pesquisarem o número de automóveis adquiridos em 2010 na cidade de Joinville. E gostaria de motivá-los a duas reflexões: “Será que os valores das tarifas não instigam à compra de mais e mais automóveis?” “Será que haveria tanto automóvel nas ruas nos horários de pico, comprometendo o seu direito de ir e vir, caso as passagens fossem mais acessíveis?”

Em Joinville, os manifestantes, tal qual mostra o documentário citado acima, seriam chamados de arruaceiros; em Joinville, tal qual mostra o documentário da realidade da capital, o policiamento não estaria preparado para uma manifestação daquele porte. É triste perceber que há tanta desinformação a ponto de não entenderem que a água bate na bunda de todos os que precisam das ruas. Manifestações são previstas por lei e até países como Grécia e França são ícones do poderio popular nas ruas. É indecente saber que gastando $5,10 de transporte diariamente, gasto mais do que certa senhora do meu trabalho gasta de combustível, ela que mora em meu bairro e dirige uma BMW do ano. Puta que o pariu!

Quarta (19/01) tem manifestação do MPL, na prefeitura às 10 horas.

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Você tem um aquário?

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